Um recente estudo realizado no sítio agroecológico da
Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna, SP, analisou e
comparou as variáveis microclimáticas dentro e fora de um sistema agroflorestal
(SAF) biodiverso. Ao longo dos três primeiros meses de 2022, foram coletados
dados de luminosidade, temperatura e umidade relativa do ar em cinco diferentes
horários do dia, visando compreender e diferenciar o comportamento destas
variáveis climáticas no SAF em relação a um sistema de monocultivo a pleno sol.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Joel
Queiroga, os resultados revelaram diferenças notáveis nas variáveis analisadas
nos dois sistemas. Dentro do SAF, a luminosidade e a temperatura do ar foram
consistentemente inferiores em comparação com o ambiente externo, apresentando
diferenças estatisticamente significativas. A umidade relativa do ar seguiu uma
tendência oposta, sendo superior dentro do SAF em comparação com o ambiente
externo.
A análise apontou para a capacidade do microclima do SAF
em mitigar danos e estresses causados por eventos climáticos extremos, como
temperaturas elevadas e estiagens prolongadas. Essa capacidade de mitigar
eventos climáticos extremos contribui não apenas para maior resiliência
das plantas cultivadas, mas também para uma maior produtividade. Essa dinâmica
promissora de regulação do microclima oferece benefícios significativos para os
agricultores que adotam esses sistemas de produção, garantindo não apenas
geração de renda, mas também segurança e soberania alimentar.
Além disso, explica Queiroga, a avaliação teve como
objetivo fornecer informações cruciais para subsidiar a seleção de espécies
adaptadas, oferecendo recomendações de manejo e explorando o potencial de
resiliência desses sistemas diante de eventos climáticos extremos. Os SAFs são
reconhecidos por combinar intencionalmente fatores como solo, árvores, culturas
agrícolas e/ou animais, criando interações sinérgicas e sustentáveis. Seu papel
vai além da produção de alimentos, madeira e outros produtos, abrangendo a conservação
da biodiversidade e a promoção do desenvolvimento rural, econômico e social.
A singularidade dos SAFs reside na ausência de modelos
padronizados, uma vez que o desenvolvimento das espécies é influenciado por
condições ambientais específicas e características regionais diversas. A
concepção desses sistemas também é moldada por adaptações socioeconômicas,
manejo e um planejamento contextualizado, explica o pesquisador Luiz Octávio
Ramos Filho, da Embrapa Meio Ambiente.
Para Laleska Rabelo, da Universidade Federal de São
Carlos, o estudo enfatiza a importância da distribuição espacial das culturas
na maximização da eficiência do uso de recursos e na interação entre
agricultura, condições ambientais e socioeconômicas. Ao considerar parâmetros
microclimáticos, como temperatura, umidade relativa do ar e luminosidade,
durante o planejamento da distribuição das culturas, é possível otimizar o uso
de recursos, reduzir a competição e promover interações benéficas entre as
espécies cultivadas, resultando em ambientes propícios ao crescimento das
plantas e na produtividade do Sistema Agroflorestal.
A luminosidade, especificamente, destaca-se como uma
variável crucial tanto na seleção de espécies quanto na tomada de decisões
relacionadas ao manejo de podas de espécies sombreadoras nos SAFs. De acordo
com Waldemore Moriconi, o estudo apontou variações nos valores de luminosidade
ao longo do dia, com um aumento pela manhã e uma redução gradual a partir das
10h30 até as 16h30, mantendo-se superiores aos valores iniciais do período da
manhã.
Quanto à temperatura, segundo Queiroga, as análises
revelaram diferenças significativas nos horários intermediários do dia,
atribuídas à redução da luminosidade e, consequentemente, da radiação solar no
interior do SAF. Em todos os horários analisados, observou-se uma tendência de
temperaturas mais baixas dentro do SAF, sugerindo um ambiente propício para
reduzir o estresse das plantas diante de eventos extremos de elevadas
temperaturas.
Em síntese, os resultados desse estudo fornecem insights
valiosos sobre a eficácia dos SAFs na regulação do microclima, destacando sua
importância na promoção da sustentabilidade agrícola e na adaptação a eventos
climáticos adversos.
Também participaram do trabalho Verónica Castro, da Unesp e Aline Maia da Embrapa Meio Ambiente
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