Em função da pandemia e do isolamento social, 897,2 mil trabalhadores perderam o emprego de março a setembro de 2020, sendo 588,5 mil mulheres, ou seja, 65,6% dos demitidos, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), publicado pelo governo federal. Os homens são 60% do total de trabalhadores com carteira profissional, mas representam apenas 34,4% dos demitidos no período citado. Como nos dois primeiros meses do ano, quando ainda havia saldo positivo de vagas para ambos os sexos, a criação de postos para mulheres também foi menor, elas representam hoje 81% do resultado líquido negativo do Caged em 2020.
De acordo com o economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, uma das razões para que as mulheres tenham sido mais atingidas é que elas são maioria nas atividades mais prejudicadas pela crise, como o setor de serviços. Porém, segundo ele, o que mais preocupa não é só que as mulheres estão saindo mais do mercado de trabalho, mas também demonstram maior dificuldade em retornar ao emprego formal. Em junho, quando o saldo geral do Caged ainda era negativo, o estoque de empregos formais ocupados por mulheres estava 4,7% abaixo do nível de fevereiro, enquanto para homens era 3,7% inferior. A partir de julho, o mercado como um todo começou a reagir e, em três meses, foram criadas 697,3 mil vagas, mas 77% foram para trabalhadores do sexo masculino. Em 12 meses, a queda do estoque de empregos é de 3,7% para as mulheres e 1,3% para os homens.
Na visão do economista, as mulheres têm mais dificuldade de reorganizar o esquema doméstico para voltarem ao trabalho, sobretudo as que têm filhos e estão sem a opção de deixá-los na escola, ainda fechada. "O problema torna-se especialmente importante ao se analisar a expectativa média de vida no Brasil que, pela última prévia IBGE com data-base de 2019, atingiu 76,6 anos, sendo 80,1 anos para as mulheres e 73,1 anos para os homens. Portanto, as mulheres vivem sete anos mais que os homens e elas serão maioria entre os idosos, logo, a segurança financeira na velhice se torna essencial", ressalta Pio Martins.
Desemprego estimula empreendedorismo
A relações públicas Nicole Medeiros Garcia foi contratada em março deste ano por uma indústria de embalagens. Duas semanas depois, a pandemia obrigou muitos funcionários a se afastarem e a empresa acabou demitindo outros, inclusive a Nicole. A companhia faz parte da estatística nacional do Caged, já que o mês de março representou o maior número de desligamentos no país, com mais de 1,7 milhão de trabalhadores demitidos.
Por outro lado, o Brasil caminha a passos largos para registrar um número recorde de empreendedores: apenas de janeiro a setembro, a quantidade de microempreendedores individuais (MEIs) no País cresceu 14,8%, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, chegando a 10,9 milhões de registros. E Nicole também entra nessa estimativa.
Depois de dois meses desempregada e sem rendimentos, a relações públicas decidiu empreender e abriu a Nk Chocolateria, unindo a necessidade ao gosto pela cozinha e começou fazendo brigadeiros para vender para as amigas, que foram indicando e hoje o empreendimento já dá lucro para Nicole pagar as contas. "Ainda não ganho o que recebia na empresa, e acabo trabalhando muito mais agora, pois faço os brigadeiros, as finanças, as compras, as entregas e o marketing, mas é gratificante saber que sou a dona do meu próprio negócio", diz.
Publicado às 18h58
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