O Brasil enfrenta uma crise de saúde pública com a
escalada dos casos de dengue, uma doença transmitida por mosquitos que se
reproduzem em águas paradas. O país está assolado por uma epidemia com mais de
2,3 milhões de casos prováveis da doença registrados até o fim de março deste
ano, e os especialistas apontam para uma relação preocupante entre o aumento do
desmatamento e a proliferação do vetor da doença.
Segundo um novo estudo publicado por pesquisadores da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na revista Scientific Reports, o aumento
constante de casos da dengue em áreas onde antes a doença era rara está
diretamente ligado às frequentes ondas de calor provocadas pelas mudanças
climáticas e à expansão da ocupação humana em áreas recentemente desmatadas.
“No interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato
Grosso do Sul, o aumento de temperaturas está se tornando quase permanente. A
gente tinha cinco dias de anomalia de calor, agora são 20, 30 dias de calor
acima da média ao longo do verão. Isso dispara o processo de transmissão de
dengue, tanto por causa do mosquito quanto pela circulação de pessoas”, explica
Christovam Barcellos, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do estudo.
“Nessas regiões que estão sofrendo com altas de temperatura, também temos visto
um desmatamento muito acelerado. E dentro do Cerrado, há as cidades que já têm
ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com péssimas condições de
saneamento, tornando mais difícil combater o mosquito”.
Esse cenário caótico tem gerado um alerta urgente para a
necessidade de enfrentar não apenas a doença, mas também suas causas
subjacentes. Temperaturas acima da média durante o verão, temporada de chuvas
intensificada e influência do El Niño no Brasil, investimento insuficiente em
medidas preventivas nos últimos anos, deficiências no sistema de saneamento
básico e expansão de ocupações urbanas irregulares, aumento do desmatamento em
várias regiões do país, são alguns dos fatores que têm contribuído para o
aumento da dengue.
O mosquito, Aedes aegypti, desenvolve-se melhor em
temperaturas mais altas e com volumes regulares de chuvas. Com o aquecimento
global, o clima quente e úmido vem se tornando mais frequente se comparado com
anos passados, transformando áreas antes consideradas inóspitas para o mosquito
em propícias para sua sobrevivência e proliferação.
Centros urbanos e suas ilhas de calor, facilmente
apresentam temperaturas entre 18° e 33°C, condição ideal para vida e
proliferação do mosquito Aedes aegypti. No entanto, parques e praças
arborizadas podem reduzir a temperatura em até 4 graus, o que diminui a
presença do mosquito, além de que estes locais costumam ter uma maior
biodiversidade com predadores que se alimentam do mosquito, e outras espécies
que competem pelo menos nicho.
Diante da crescente interconexão entre saúde humana e saúde ambiental, é urgente adotar abordagens holísticas que reconheçam os vínculos complexos entre desmatamento, mudança climática e doenças transmitidas por vetores. Caso contrário, o Brasil corre o risco de enfrentar epidemias ainda mais graves no futuro, com consequências devastadoras para a saúde pública e o meio ambiente.
Foto: Ian Cheibub
Publicado às 12h15
Receba notícias pelo WhatsApp clicando aqui, e nos dê um oi.
Se quiser, entre em nosso canal do WhatsApp clicando aqui
Também estamos no Telegram. Entre em nosso canal clicando aqui.
Acompanhe também as redes sociais no Facebook, Instagram, Threads e Twitter.