De acordo com o último levantamento da Fundação Getulio
Vargas, o Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) recuou 0,4 ponto em
novembro, e ficou em 84,5 pontos. Este é o primeiro recuo do indicador, após
seis altas consecutivas. Em médias móveis trimestrais, o IAEmp subiu 3,2 pontos
- para 83,8 pontos.
O professor de Contabilidade e Gestão Financeira da IBE
Conveniada FGV, Diego Barbieri, explica o estudo. “O objetivo é tentar prever
os principais movimentos do mercado de trabalho somando dados sobre a expectativa
do brasileiro, levando em conta a situação econômica local, a situação das
famílias, a situação do emprego e intenção de gastos. Com esse número é
possível tentar prever o aumento ou redução de vagas”.
O professor analisa que o aumento do indicador mostra que
o brasileiro acredita numa melhora no cenário econômico e, portanto, pode
significar um aumento nas vagas. “A economia é autorrealizável. Quando há uma
expectativa de melhora, as pessoas tendem a gastar mais, injetando mais
dinheiro no mercado. Mas, o contrário também ocorre. Em momentos de tensão e
instabilidade, gastamos menos, contribuindo para a recessão”, avalia.
Barbieri ainda aborda alguns pontos de atenção nos dados
do IAEmp. “Avaliando a subida desse indicador, podemos interpretar que no curto
prazo vai ser bom porque demonstra que o sentimento das pessoas em relação à
economia está indo bem. Porém, o fim do auxílio emergencial é algo a se notar,
por exemplo, pois não sabemos como a economia irá reagir sem esse capital na
rota”, pontua.
Já o professor de Gestão, Cleber Zanetti, que também dá
aulas na IBE Conveniada FGV, complementa que “o movimento de incerteza cria
certa dificuldade”. “Entendemos que em dezembro as expectativas por conta das
festas de final de ano geralmente são maiores contribuindo também para o
crescimento do indicador”. Mas, segundo ele, provavelmente em janeiro o cenário
deverá sofrer alteração, ficando mais próximo ao de novembro.
Indicador Coincidente de Desemprego
Outro indicador avaliado pelos professores é o Indicador
Coincidente de Desemprego (ICD), que subiu 3,2 pontos, somando 99,6 pontos - o
maior nível desde maio de 2020. O ICD é um indicador com sinal semelhante ao da
taxa de desemprego, ou seja, quanto maior o número, pior o resultado. Em médias
móveis trimestrais, houve alta de 1,1 ponto para 97,5 pontos.
Diego Barbieri responde que os dois dados devem ser
analisados em conjunto. Enquanto o primeiro (IAEmp) é um indicador de
sentimento e sensação, o segundo (ICD) é um indicador consciente. “Um diz o que
estou pensando e o segundo o que de fato está acontecendo”, avalia Barbieri.
Para ele, é normal esse aumento do nível de desempregados
devido aos impactos da pandemia. O professor avalia que, embora seja esperado,
alguns fatores contribuem para esse aumento como a crise mundial de saúde
pública e o momento de tensão política, ao qual ele ressalta que já está mais
“diluído no dia a dia das empresas” devido às constantes mudanças nos anos
recentes no Brasil.
Outro ponto avaliado por Barbieri é a falta de insumos.
“Essas matérias-primas que são commodities vinculadas ao dólar, como celulose e
aço, estão mais caras. Portanto, acabam sendo exportadas em detrimento do
consumo no mercado local. Isso impacta diretamente na economia, afinal poderia
estar produzindo mais e vendendo mais, mas falta material”.
O especialista FGV conclui que a recuperação será lenta,
devido à alta instabilidade do momento, porém, a situação pode melhorar a
partir de janeiro, sobretudo por causa da possível vacina. “Com a vacinação em
janeiro e o fim do auxílio emergencial, conseguiremos sentir o desenvolvimento
da economia no próximo ano. No entanto, acredito que esse cenário de desemprego
se manterá um pouco. Em dezembro existem as compras natalinas e janeiro costuma
ser um período de vacas magras”, define.
Já o professor Cleber Zanetti acredita que para o
primeiro trimestre de 2021 os dados ainda deverão mostrar um aumento na taxa de
desemprego. “Mas, a partir do segundo trimestre devemos gradativamente retornar
à redução nessa taxa, com o aumento da atividade econômica”.
Os índices
O IAEmp é construído como uma combinação de séries
extraídas das Sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor, tendo
capacidade de antecipar os rumos do mercado de trabalho no país. O indicador é
positivamente relacionado com o nível de emprego no país.
O ICD é construído a partir de dados desagregados, em
quatro classes de renda familiar, do quesito da Sondagem do Consumidor que
capta a percepção do entrevistado a respeito da situação presente do mercado de
trabalho. Desse modo, o indicador capta a percepção das famílias sobre o
mercado de trabalho, sem refletir, por exemplo, a diminuição da procura de
emprego motivada por desalento. O ICD varia no mesmo sentido na taxa de
desemprego. Ou seja, quanto maior o desemprego, maior o indicador e vice-versa.
Com informações da FGV
Publicado às 22h12
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