Há muitos mitos
que rondam o senso comum acerca da perda de peso e funcionamento do
metabolismo. Enquanto alguns comportamentos que realmente afetam nosso corpo
nem sempre são lembrados ou levados em consideração no controle da obesidade,
como a falta de sono e o consumo de bebidas alcoólicas que, sim, engordam.
“Com o
isolamento social, não são raras as pessoas que afirmam que os dois
comportamentos foram potencializados em suas rotinas devido à quarentena. Por
isso, o alerta é tão importante neste momento”, destaca o Prof. Dr. Filippo
Pedrinola.
Álcool tem quase
o dobro de calorias do açúcar
O processo de
produção do álcool vem da destilação ou fermentação do açúcar, fazendo com que
a molécula de açúcar, antes com quatro calorias, passe a ter sete calorias
quando é transformada em uma molécula de álcool. Ou seja, o número de calorias
quase dobra.
De acordo com o
Prof. Dr. Filippo Pedrinola, médico endocrinologista, o metabolismo acaba sendo
bastante afetado pelo consumo do álcool durante o processo de emagrecimento.
“Quando há a
ingestão da bebida alcoólica, além de consumir o dobro das calorias do açúcar,
o metabolismo vai priorizar a eliminação do álcool do organismo. Isso significa
que ele acaba deixando de lado o processo normal de queima calórica do corpo,
proveniente dos alimentos que ingerimos, como se atrasasse o metabolismo”,
explica o endocrinologista.
Pesquisas também
sugerem que o álcool parece aumentar a percepção do apetite, podendo
influenciar em uma série de hormônios responsáveis pela sensação de saciedade
inibindo, por exemplo, a ação do GLP 1 e das leptinas.
E o problema não
se limita apenas à bebida alcóolica, já que, em alguns casos, dependendo de
como a bebida é preparada em coquetéis, as calorias são ingeridas em dobro. Uma
caipirinha, por exemplo, contém açúcar, uma batida pode conter leite
condensado, há quem misture vodca com energético que, além da caloria, ainda
tem o problema do excesso de cafeína.
Mesmo entre as
pessoas que já sabem disso, muitas até acreditam em mitos que afirmam que
certas bebidas alcoólicas podem ser mais inofensivas e com menos calorias. Essa
fama foi colocada no gin, por exemplo. Trata-se de uma impressão falsa, pois o
coquetel mais clássico com essa bebida, o gin tônica, não levar açúcar e tem um
paladar mais leve e fresco.
“O problema do
gin tônica é que a água tônica, principal ingrediente, é um dos refrigerantes
mais calóricos que existem. O quinino em sua composição demanda uma grande
adição de açúcar para que o sabor fique mais equilibrado. Existem alternativas
para reduzir essa caloria, como utilizar água tônica com zero açúcar ou
substituir o açúcar branco de uma caipirinha por adocante. Não podemos afirmar
que estas versões dos coquetéis alcoólicos não engordam, porém são opções mais
adequadas para o consumo de quem está controlando o ganho de peso”, declara
Pedrinola.
Para emagrecer
com saúde e não deixar o álcool atrapalhar o processo, o ideal é sempre evitar
o excesso de bebida, consumindo com moderação e buscando fazer misturas que
tenham o mínimo de açúcar possível.
Uma única noite
mal dormida pode desregular todo o metabolismo
No que diz
respeito ao sono, os malefícios são igualmente prejudiciais. Isso acontece
porque o ato de dormir é composto por quatro ciclos, sendo três deles
conhecidos pelo nome “Fase Não-REM”, e o último ciclo é chamado de “Fase REM”,
sigla que traduzida do inglês significa “Movimento Rápido dos Olhos”.
Cada um desses
ciclos demora aproximadamente 90 minutos para se concluir, e a fase REM é
essencial para o corpo e para a mente, sendo ela a responsável por liberar os
hormônios necessários para o bom funcionamento do cérebro e a dose necessária
de grelina, leptina e cortisol.
Com a privação
do sono esses hormônios ficam desregulados, gerando uma hiperprodução de
grelina, produzida no estômago e responsável por nos fazer sentir fome. Uma
hipoprodução de leptina, desenvolvida nas células de gordura, responsável pelo
aumento da fome e maior produção nos níveis de cortisol, hormônio responsável
pelo estresse. Inclusive, o estresse é outro fator que influencia muito no
ganho de peso e tem relação direta com o acúmulo de gordura na região abdominal”,
declara o Prof. Dr. Filippo Pedrinola.
Em média, grande
parte da população precisa dormir de 7 a 8 horas por noite, mas há aqueles que
só ficam completamente “descansados” quando dormem por mais de 9 horas e
aqueles que precisam de menos de 7 horas de sono para se recuperarem.
O ideal é sempre
se manter alerta ao seu relógio biológico e criar uma rotina diária, como um
horário certo para ir dormir, evitar usar o celular pelo menos 30 minutos antes
de se deitar e evitar o consumo de certos alimentos que podem estimular o
cérebro ao invés de relaxar. Se, mesmo assim, ainda sentir dificuldades para
dormir, o ideal é procurar a ajuda de um médico.
Sobre o Dr.
Filippo Pedrinola
O Dr. Filippo
Pedrinola, criador do protocolo Medicina de Estilo de Vida, é médico
formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com
residência médica em clínica e endocrinologia no Hospital das Clínicas de São
Paulo.
Após período de
um ano do Fellowship Program do Cedars Sinai Medical Center da University of
California em Los Angeles (UCLA), concluiu doutorado em endocrinologia pela
Faculdade de Medicida da USP.
É membro da The
Endocrine Society dos Estados Unidos, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia
e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira de Estudos sobre Obesidade
(ABESO).
Possui certificação em medicina mente-corpo pelo Body-Mind Institute da Harvard
Medical School, pela International Stress Management Association no Brasil
(ISMA-BR) e pela University of Texas em Arlington (UTA).
Além de estar à
frente de suas clínicas médicas próprias, faz parte do corpo clínico do
Hospital Albert Einsten e do Hospital BP Mirante, neste último é Coordenador do
Núcleo de Bem-Estar e Terapias Integrativas.