Você se lembra de ouvir pais ou avós dizendo que invadimos os espaços dos animais e dos bichos? Daquele lugar que antes era uma floresta, fizemos casa, correndo, dessa forma, o risco de ter um animal peçonhento à nossa espera a qualquer momento. A era da sustentabilidade acabou. Precisamos entrar na era da regeneração.
Se ao cortar árvores, desviar rios, terraplanar morros, e agredir o solo para construir casas, prédios e condomínios estamos expulsando animais, como serpentes, ratos e escorpiões, de seu habitat natural e, consequentemente, “convidando-os” para virem morar perto de nós, essa lógica também vale para microorganismos, como vírus e bactérias.
E, segundo cientistas brasileiros, foi justamente isso que provocou a pandemia de Coronavírus: "Esses vírus e outros micro-organismos vivem na natureza. Quando acabamos com ela, diminuímos o espaço vital deles. Então, eles buscam alternativas para continuarem existindo”, afirma o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para ele, outro problema está na forma como nos relacionamos com a natureza, especialmente os animais: "Não só estamos invadindo o espaço desses micro-organismos, como, em contrapartida, estamos proporcionando, ao mesmo tempo, muitos outros lugares para eles, com a criação intensiva de gado, de porco, de frango, dando oportunidade deles aumentarem outros espaços para prosperar".
O Coronavírus e a questão ambiental
O alto poder de mutação dos vírus é um dos grandes perigos para o ser humano. Ao entrar em contato com animais, o homem pode fazer com que o ciclo zoonótico dos vírus seja interrompido, e passe, ele mesmo, a se tornar também um hospedeiro.
São casos de humanos que manusearam animais mortos, foram picados por insetos, ou ainda mordidos por roedores infectados, e foram expostos ao vírus.
Para a bióloga Paula Prist, do Laboratório de Ecologia da Paisagem e Conservação da Universidade de São Paulo (USP), situações como essas exemplificam a forma como nós, humanos, podemos contrair e, posteriormente, transmitir uma enfermidade que antes era limitada aos animais: “Pode-se dizer que todas se deram em razão da degradação do meio ambiente [...] A transformação de ambientes florestais em pastos ou áreas agrícolas quase sempre diminui a variedade de espécies locais”.
Sendo assim, o desmatamento e a degradação ambiental podem ser considerados como fatores fundamentais para a disseminação de doenças entre animais e homens.
E o que isso tem a ver com a economia?
Além da obviedade latente que estamos vivenciando, com lojas de portas fechadas, empresas encerrando atividades, e trabalhadores demitidos, frutos da necessidade de distanciamento e isolamento social, outras questões podem vir à tona nesse momento.
Não podemos mais nos arriscar a viver situações semelhantes a essa num espaço curto de tempo, correndo o risco de ver ainda mais empresas decretando falência, mais pessoas desempregadas, e, por fim, mais gente passando fome.
Se continuarmos nos arriscando, abusando do mau uso dos recursos naturais, do solo, da água, e do próprio homem e seu trabalho, podemos sofrer consequências extremamente danosas, como outras pandemias que poderão surgir.
O tema agora é a regeneração
Em seu artigo publicado no portal O Futuro das Coisas, Sabina Deweik afirma que o planeta chegou ao limite da capacidade de sobrevivência com influências humanas: “Já ultrapassamos a capacidade de carga da Terra e extrapolamos a biocapacidade do Planeta. A dívida do ser humano com a natureza cresce a cada dia e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana”.
Sabina defende que o homem não somente é capaz de, mas tem a responsabilidade de dar existência, fazer nascer, regenerar a vida na Terra: “A fragmentação do ser humano com a natureza, na qual não nos enxergamos como parte da natureza, retirando recursos da mãe terra em uma dinâmica nociva de ‘pego mas não reponho’, é talvez um dos grandes entraves de nosso futuro como espécie”.
E essa regeneração ultrapassa os limites do ecossistema, e Sabina prova, com diversos documentos, artigos e discursos de líderes mundiais, que há uma necessidade extrema de revermos diversos posicionamentos e crenças que possuímos hoje.
Igualdade, justiça e o comate à discriminação racial; distriuição de renda e de salários; colaborações entre os setores público e privado; e inovações que apoiem o bem público, especialmente no que toca os desafios sociais e de saúde são alguns dos critérios que devem embasar o que muitos especialistas hoje chamam de um “novo contrato social” para a humanidade.
Uma humanidade mais solidária, responsável e regenerada, tanto no aspecto social, como econômico e ambiental, com poder para programar “um futuro mais justo, mais sustentável e mais resiliente”.
Ibraim Gustavo é jornalista, escritor e educador, Pós-graduado em MKT e MBA em Comunicação e Mídia
Publicado às 20h29
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