Prezados, boa tarde!
No dia 30/04/21, minha sogra Jacyra Cuono Bolognese, de 94 anos, apresentou tosse, como os sintomas não cessaram, realizou o exame teste rápido IgG e IgM no dia 04/05, onde testou positivo para o Covid-19. Após consulta realizada no Hospital Santa Rosa de Lima, em Serra Negra, foi solicitado uma tomografia – que foi realizada, no dia seguinte, de forma particular em Amparo, uma vez que no Santa Rosa somente pacientes internados podem realizar esse exame.
A princípio, o único sintoma era tosse, seguida de diarreia. Ainda no dia 5/5, levamos o resultado (imagem e laudo) na UBS Jardim das Palmeiras. O médico examinou o laudo e disse que não havia comprometimento dos pulmões. Até esse momento, a Sra. Jacyra não apresentava febre nem falta de ar, porém, se cansava ao menor esforço. A prescrição foi de Azitromicina 1x dia por 5 dias, Dexametasona 4mg por 10 dias, Zinco pró e Acetilcisteina. Mesmo estando no sexto dia de sintoma, teve alta, mas permaneceu com diarreia.
No dia 6/5, retornou a Jardim das Palmeiras para monitorar os sinais vitais. Embora continuasse com tosse, o médico fez ausculta pulmonar e alegou que estava tudo bem, enviando-a para casa novamente para continuar o tratamento.
Na sexta-feira, dia 07/05, o Dr. Luís da UBS Palmeiras solicitou a administração venosa de soro com Hidrocorticoide + Vitamina Complexo B. A saturação havia caído para 92, o que já começou a ficar preocupante, segundo o próprio médico. De todo modo, a orientação foi para que retornasse para casa.
Em 8/5, novamente na UBS, o Dr. Ricardo observou saturação oscilando entre 88 e 90, realizou ausculta pulmonar e percebeu que a haviam alterações. Jacyra foi encaminhada, de ambulância, para o Hospital Santa Rosa de Lima, onde permaneceu esperando por atendimento durante 1 hora, sob a alegação de que haviam casos mais urgentes no Hospital. Após atendimento e realização do Raio-X, verificou-se a presença do vírus (vidro fosco) e o comprometimento dos pulmões.
Seu exame de sangue apresentou variação de leucócitos, deixando claro que havia alguma infecção. Somente nesse momento decidiram interná-la.
No dia seguinte, domingo de Dia das Mães, seu filho Antonio conseguiu entrar no quarto para levar cobertor e travesseiro que ela gostava. Antonio relata que sua mãe estava gemendo de dores por todo o corpo, ofegante (mesmo com a máscara de oxigênio no nível máximo) e pedindo para morrer, pois não aguentava mais sentir tanta dor, além de apresentar claros sintomas de desidratação (confusão mental, palidez, veias estouradas).
Às 22h15 a Dra. Larissa chamou o único filho Antonio no hospital para falar sobre os procedimentos a serem adotados dali em diante. Com o cateter de O2, ela estava saturando 80. Colocaram a máscara com o máximo de O2, quando a saturação subiu para 92. Contudo, a Dra. explicou que caso a saturação caísse novamente, o próximo passo seria a intubação. A Dra. alertou, entretanto, que isso causaria sofrimento e desconforto à paciente, além do alto risco de parada cardiorrespiratória, tendo em vista sua idade e a existência de algumas comorbidades. A Dra. Ainda explicou que, caso a família entendesse que não valia a pena investir nesse recurso, existiam mecanismos de sedação que aliviariam o desconforto até que a paciente encerrasse a sua missão. Ela não afirmou que iria acontecer, mas como a responsável pelo plantão, se sentia na responsabilidade de fazer o melhor. O filho Antonio comentou que seria desnecessário levar tanto sofrimento à uma pessoa que já viveu bastante e que não merecia passar por tudo isso, mas que gostaria de sedá-la para que parasse de gemer de tanta dor.
Ocorre que, para nossa surpresa, a Dr. Larissa saiu do plantão na manhã do dia 10/5 e, além de não ter realizado a sedação na paciente durante a madrugada, sequer incluiu essa solicitação na prescrição médica. A única observação era no sentido de que a família não autorizou a intubação.
Com a troca do plantão, o médico seguinte também ficou inerte e não a sedou.
A Sra. Jacyra passou a segunda-feira inteira gritando, gemendo e pedindo por socorro porque não conseguia respirar. Contratamos cuidadoras para ficar com ela no hospital, que relataram que passaram mal de tanto vê-la sofrer. Inclusive, temos áudios das cuidadoras onde é possível escutar a Sra. Jacyra gritando desesperadamente ao fundo. Mesmo tentando chamar as enfermeiras para que fizessem algo, nada foi feito. Cruel. Desumano.
Ainda no dia 10/5, eu mesma fui com o Antonio conversar com o Dr. Diogo Martins, que estava de plantão. Muito atencioso, disse que viu o sofrimento dela e que iria providenciar a sedação. Garantiu que estaria de plantão também no dia seguinte e que acompanharia o caso de perto. Às 22:00, pediu à acompanhante que o Antonio ligasse pra ele, onde o informou que a sedação demorou para ocorrer e a paciente só dormiu com a administração de Morfina.
No dia seguinte, 11/5, às 09h45 da manhã, recebemos a notícia, por meio do Dr. Diogo, de que a Sra. Jacyra havia falecido enquanto dormia, sem dor.
A enfermeira Thais, do setor Administrativo, não me deixou reconhecer o corpo da minha sogra, momento em que ameacei chamar a Polícia. Felizmente, depois de muita confusão, não foi necessário. Fui com o carro da funerária - devidamente paramentada, onde pude reconhecer o corpo.
Foram 7 dias de incontáveis tentativas, correria e muito sufoco, mas ninguém fez nada que pudesse mitigar/reverter o caso. A única orientação – para uma Senhora de 94 anos com diagnóstico positivo para Covid-19 e com claros sintomas da doença – era para voltar para casa e repousar.
A internação ocorreu dia 8/5 e o falecimento no dia 11/5. Hoje nos perguntamos se poderíamos ter garantido mais alguns meses – ou anos – de vida para a Sra. Jacyra, caso a UBS e o Hospital Santa Rosa de Lima tivessem tratado-a com o devido respeito e prudência.
Gostaríamos que esse relato servisse de alerta para a população de Serra Negra, para que ninguém mais precise passar por esse sofrimento ou presenciar algum ente querido enfrentando uma situação lamentável como essa e para que essa negligência não se repita.
Fiquem atentos aos seus familiares. Os funcionários não são preparados para acolhimento em uma hora de sofrimento como essa. As enfermeiras são frias e sem nenhuma humanização. Temos que, acima de tudo, amar nossa profissão, para cuidarmos bem do próximo.
Todas as vidas importam, independentemente da idade.
Conteúdo enviado via WhatsApp do portal, por E.E.
Nota da Redação – Entramos em contato com a divisão de comunicação da Prefeitura de Serra Negra e Hospital Santa Rosa de Lima.
Em 17 de maio, a Prefeitura de Serra Negra, por meio da Secretaria de Saúde, oficiou a empresa prestadora de serviços na Unidade de Atendimento Palmeiras (UAP) e o Hospital Santa Rosa de Lima a respeito do caso e também aguarda maiores esclarecimentos.
Até o publicação do conteúdo, não recebemos resposta, porém, o espaço está aberto para a manifestação.
Publicado às 6h35
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