Na história do Brasil, é recorrente certa admiração pelas ideias vindas dos EUA, seja do ponto de vista econômico, seja das concordâncias com as políticas externas daquele país, ou, então, pelas interpretações mais estapafúrdias de líderes cujas atitudes se distanciam do bom senso, como é o caso de Donald Trump. E no Brasil da direita de Bolsonaro isso ficou mais patente, na mumificação dos trajetos ideológicos que o presidente Bolsonaro traz para o Brasil numa versão tupiniquim, sempre aguardando aprovação ou reconhecimento da grande potência mundial.
Na exegese do inconsciente
brasileiro, principalmente daqueles de maior poder aquisitivo, as marcações
estereotipadas permanecem se impondo ao bom senso e a uma discussão científica
séria com a finalidade de desqualificar algo que entendem depreciativo na sua
origem, a China, mormente com a postura do nosso presidente Bolsonaro, que
despreza a ciência nos moldes de Donald Trump, levando milhares à morte por um
vírus que afirmam de origem chinesa, ou oriundo de um país comunista, portanto,
“de um país inimigo”.
A ideação deliroide de uma
“conspiração comunista” elaborada por fanáticos de extrema direita no Brasil
nos afastou, enfim, de uma maior percepção científica, prejudicando o
debate saudável em termos de saúde pública e, por consequência, conduziu a uma
depreciação e desqualificação da “vacina chinesa”, a Coronavac, produzida pela
empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan. E aí vale a pena
ressaltar que não há vacinas licenciadas para uso humano que não passem pelos
rigores científicos que as tornam extremamente seguras. Além disso, é mais
segura devido ao fato de ter sido desenvolvida por meio de uma técnica antiga
(vírus inativado), pois já existem outras vacinas licenciadas que usam vírus
inativados para uso humano que realmente demonstram funcionalidade, portanto, é
uma vacina absolutamente promissora segundo testes clínicos e que deverá ser
avalizada por institutos responsáveis, como a Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) aqui no Brasil.
E gostaria de me ater
aqui, não à questão científica propriamente dita, pois para isso temos
competentes cientistas brasileiros, mas a uma reflexão sobre os motivos dessa
resistência. Não acredito em uma disputa Bolsonaro versus João Dória, mas, como
disse acima, parte da extrema direita tentou jogar uma faísca desqualificadora
que passou para o inconsciente popular a ideia de que a “vacina chinesa”
estaria em breve sendo vendida na Rua 25 de Março, o maior ponto de venda de
produtos chineses localizado na capital paulista. Há a oferta de produtos que
vão de guarda-chuvas, lenços, óculos, brinquedos a uma infinidade de artigos
chineses de origem duvidosa, e é aí que nasce essa ideia infundada sobre a “vacina
chinesa”, que lhe causa um impacto triste, ofegante, infectado, em que se
misturam ideologias, mentiras e disputas políticas numa verdadeira infecção
ideológica e preconceituosa que não leva a lugar algum, enquanto milhares
morrem nos frios corredores dos hospitais, sendo socorridos por respiradores,
luvas, máscaras, aventais, seringas, todos vindos da China, mas isso não se
conta na velha 25 de Março...
Fernando Rizzolo é
Advogado, Jornalista e mestre em Direitos Fundamentais
Publicado às 13h07
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