No último dia 27 de julho o Diário Oficial do Estado publicou
decisão do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), rescindindo os
contratos com as empresas que construíam as barragens de Pedreira e Duas
Pontes, respectivamente nos municípios de Pedreira e Amparo. O DAEE tomou a
decisão em função do atraso no cronograma das obras. A diretoria do DAEE tem
afirmado que quase a metade dos recursos financeiros previstos para as obras já
foram gastos.
Eu considero extremamente preocupante o atraso no cronograma
dessas obras, o que na minha opinião representa uma grave ameaça à segurança
hídrica a médio e longo prazos nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Trata-se de um dos territórios mais populosos, com mais de 6 milhões de
moradores, e importantes economicamente do Brasil, onde está situada a Região
Metropolitana de Campinas (RMC).
A curto prazo o abastecimento de água nas bacias PCJ em geral
e na RMC em particular não está ameaçado, na medida em que, em função das
últimas chuvas intensas, os reservatórios estão em boas condições. Entretanto,
a questão é que o planeta todo está sentindo cada vez mais os impactos das
mudanças climáticas, gerando episódios extremos ou de chuvas ou de seca. Neste
cenário, é fundamental que sejam tomadas todas as medidas de precaução
necessárias, para evitar um desabastecimento a médio e longo prazos.
Não podemos nos esquecer da forte estiagem ocorrida entre
2014 e 2015, que atingiu em cheio a região do PCJ e por pouco não provocou uma
catástrofe em termos de abastecimento. Um estudo realizado na época, para a
produção do Relatório da Situação dos Recursos Hídricos das Bacias PCJ 2016,
mostrou que entre 2011 e 2015 a disponibilidade de água na região do PCJ caiu
de 1.055,00 para 1.000,97 metros cúbicos por habitante/ano. Isto significa que
em cinco anos, quando ocorreu a estiagem intensa, a disponibilidade de água por
pessoa na região caiu em 55 mil litros, confirmando a gravidade do balanço
hídrico na região já naquela época.
Ocorre que a população cresce muito nessa região, o dobro da
média nacional, como demonstraram os recentes resultados do Censo. Somente a
Região Metropolitana de Campinas cresceu em 13,1% entre 2010 e 2022, chegando a
mais de 3,1 milhão de habitantes. São quase 400 mil novos moradores somente na
RMC na década recente, ou uma população equivalente a um terço da grande cidade
de Campinas. A população brasileira cresceu em 6,5% no período, segundo o IBGE.
Com o crescimento populacional contínuo e as ameaças
crescentes derivadas da emergência climática global, é fundamental que seja
conquistada a segurança hídrica na RMC e em toda a área das bacias PCJ. Nesse
sentido as barragens de Pedreira e Amparo são fundamentais, pois somadas elas
vão garantir cerca de 6 metros cúbicos por segundo a mais de água disponível
para a RMC. São 6 mil litros por segundo adicionados, equivalentes ao
abastecimento de "uma Campinas e meio", aproximadamente.
Com a decisão do DAEE, de romper o contrato com as empresas
que construíam as represas, novos procedimentos precisam ser feitos para
garantir a continuidade o mais rápido possível das obras. De qualquer modo,
elas devem durar pelo menos mais dois anos. Assim, as represas ficarão
concluídas muitos anos depois do prazo inicial.
Em minha vida pública, o abastecimento de água, para a
qualidade de vida de todos, sempre foi uma de minhas principais preocupações.
Eu era prefeito de Sumaré e presidente do Conselho da RMC, em 2004, quando foi
discutida a renovação da outorga do Sistema Cantareira. Na época fui firme na
defesa de liberação de mais água do Cantareira para as bacias PCJ, em benefício
sobretudo das cidades da RMC.
Agora em meu mandato como deputado estadual continuo a minha
postura, e vou ser igualmente firme na defesa da retomada o mais breve possível
das obras das barragens de Pedreira e Amparo. Também estarei vigilante no
sentido de que a construção das barragens seja acompanhada da implantação de um
sistema de adutoras para permitir o transporte da água dos reservatórios para
as cidades da RMC, evitando-se o desabastecimento futuro. Água é vida e não dá
para sermos omissos em tempos de mudanças climáticas cada vez mais intensas e
impactantes, como temos visto em todo o planeta.
Dirceu Dalben é deputado estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo
Publicado às 15h22
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